quarta-feira, 26 de maio de 2010

Remember (A S.... B....)

Lembro-me de nós os dois à chuva, a passear a meio da noite naquela terra maldita. Lembro-me dos teus olhos, do fumo do teu cigarro, do teu perfume, das tuas mãos, da vida que emanavas. Falaste-me dos teus problemas, das tuas ânsias, dos teus projectos e eu falei-te de... nada. Estava demasiado concentrado a tentar perceber de onde tinhas caído, porque não acredito que existam pessoas como tu.
Não sei como me apaixonei por ti. Ainda hoje não o consigo explicar. Essa dúvida persegue-me, estavas demasiado out of my league, eras demasiado para mim. Lembro-me do primeiro charro que fumámos juntos. Mente nublada, sorriso nos lábios, éramos jovens e imortais, nada nos podia fazer frente.
Lembro-me do primeiro beijo, nada inocente, mas pouco mais do que isso aconteceu nessa noite. Não que não quiséssemos, mas estávamos demasiado pedrados para isso. Bad trip, acontece a todos.
Lembro-me da espiral de decadência. Lembro-me de preparamos a sopa juntos, lembro-me do garrote no teu braço, da agulha a espetar-se, da sensação de prazer que aquilo nos dava. Já não éramos um do outro, o nosso mundo resumia-se a ela. Fiz coisas de que não me orgulho e tu fizeste coisas que nem quero imaginar. Desceste ao ponto mais baixo do poço, e eu desci contigo, tentando salvar-te, mas ficámos lá os dois.
Lembro-me do último dia que estivemos juntos. Não me queria lembrar, mas é impossível. A casa desfeita, os pratos partidos, sangue no chão, e o meu mundo a desabar aos poucos. Andei, comprimidos no chão e tu caída a um canto, pulsos cortados. Lembro-me da carta que escreveste. Lembro-me de tudo.
O ódio do teu pai, daquele que te tinha tirado toda a inocência, a acusar-me de te ter feito aquilo. Amava-te, como poderia ele achar que eu era capaz de te magoar? Tiveste mais coragem do que eu. Desde ti, nada mais foi o mesmo. Até sempre. Havemos de nos encontrar, e ser felizes.

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