Nada tenho para te dar. Não sou ninguém, sombra de mim mesmo, perdido numa qualquer rua escura desta cidade caótica que é a minha mente. Sim, estou preso dentro de mim próprio. Não me compreendo, sou um ser estranho para mim. Vejo-me a uma distância razoável, e não consigo entender muita coisa em mim. Como poderias tu perceber? Para ti sou um livro aberto, mas todas as páginas estão em branco. Ou escritas numa qualquer língua morta que já ninguém entende.
Um achado arqueológico. Resquício de uma civilização esquecida, que nada deixou de interessante. Sou escrita cuneiforme, sou um caco partido que ninguém nunca vai perceber se é romano ou grego ou troiano ou o quer que seja. Sou um pequeno ponto no mapa, não sou suficiente para ser chamado história. O meu rasto não vai aparecer em nenhuma cronologia, nada vou deixar que chame a atenção. O que escrevo nada vale. Por muito que desabafe, estas palavras nada são, enquanto não as conseguir dizer a ti. Enquanto não conseguir materializar em sons aquilo que ponho em letras.
Não te amo. O amor é algo que vai sendo construído. Sei que a maior parte das pessoas não concorda comigo. Mas a verdade é esta. Não te amo, mas gosto de ti e não consigo estar muito tempo longe de ti. Soube-o logo da primeira vez que te vi. Acredito em ti. Sinto-me bem ao sentir-te perto de mim. Só isso. Mesmo que nunca chegues a saber, já foste o suficiente para que eu me sentisse melhor e para que acreditasse que afinal é possível. Só por isso mereces que te agradeça. Assim. Sem grandes dramas, sem grande palavras. Não direi "Amo-te", digo-te antes "Obrigado".
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