segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Que República?

Não festejarei o 5 de Outubro, pelo menos não com o simbolismo que todos estão a adoptar. Infelizmente, já não posso acreditar na república (escrevo com letra pequena em consciência). Festejo o 5 de Outubro por ter sido o dia em que foi assinado o Tratado que nos garantiu a independência e nos impede de estarmos todos a falar castelhano. Não sou Iberista, gosto muito da minha pátria, sou Português com muito orgulho. No entanto, não acredito no Presidente da República, representante de apenas uma fracção da sociedade, não acredito no que me tentam impor. A república melhorou o nosso País (e sim, País escrevo com maiúscula, porque mesmo não concordando com o regime, amo Portugal e morreria por ele)? Já defendi o sistema republicano veementemente, já militei na extrema-esquerda, já achei que a monarquia era retrógrada e obscurantista. Mas... E existe sempre um "mas": a I república enviou milhares de soldados portugueses para a I Guerra Mundial, para além de ter retirado o direito de voto a grande parte da população, pavimentou o caminho para a ditadura militar e para o consequente Estado Novo, que nos custou o avanço de dezenas de anos. Juntando a isto, essa mesma I república foi instituída através de um golpe de estado, não apoiado pela maioria da população e os primeiros republicanos, amedrontados ou inchados pelo poder que haviam conquistado, impuseram censura a todos os monárquicos (algo que não tinha acontecido com os republicanos durante a monarquia constitucional). Depois dos 40 anos, estes sim de obscurantismo, de ditadura veio o 25 de Abril e a promessa de liberdade. Liberdade? Professores são despedidos por não concordarem com o Primeiro-Ministro, os partidos andam em luta constante sem existir um poder unificador na presidência da república, pois o PR tem a sua própria agenda partidária, estamos a braços com uma crise económica e medidas de austeridade draconianas... Televisões são pressionadas pelos gabinetes de imprensa dos sucessivos governos, o Povo (mais uma palavra que deveria ser sempre escrita com letra grande) está cada vez mais pobre... Que País é este? Estou desiludido, e neste momento acho que se devia dar uma lição a este sistema. Apoio a realização de um plebiscito sobre a natureza do nosso sistema político e estou convicto que a Monarquia Constitucional é o melhor para o nosso país. E afirmo, sou Monárquico sem refutar os meus ideais de esquerda democrática. Viva Portugal!

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Revelation

Passo a passa avança. Não muito segura, olhos negros e pensamento noutro sítio. O horizonte abraça-a, a chama do isqueiro lambe o cigarro, estaca por momentos olhando para o vazio. Cabelo esvoaça, selvagem e rebelde, como se tivesse vida própria. Carrega consigo penas do tamanho do mundo, embora abra um sorriso para quem o merece. Não é uma pessoa usual. Não é mais uma que faz parte do rebanho. Tem vida interior, que é só dela. Tem segredos, todos os temos, e sabe esconder segredos dos outros.
O mar está ali tão perto, o abismo apetecível para acabar com tudo. Sei que não se atirará, tem muito para viver, mais do eu alguma vez terei. A sua morte será interna, uma morte na alma. Crucificada por viver de mais, amar de mais, entregar-se de mais.
As velas alumiam o caminho, o senhor das trevas chama-a, tal como me chama a mim. Ser espiritual, negro e irracional. Vejo a besta erguer-se, as suas sete cabeças vejo erguerem-se. Já não tenho medo. Agora que sei que o Apocalipse, o fim de tudo, não acabará com nada. O meu Livro das Revelações sou eu que o escrevo. Eu saberei quando não dá mais, quando não aguentar mais. E ela será chamada a julgar-me. O meu coração e a minha alma estão nas suas mãos e sujeito-me ao seu tribunal. Para sempre. Amo o Demónio. E odeio-o, por poder ser um anjo.